quarta-feira, 6 de março de 2013
Tijuana joga Libertadores em meio à tensão da fronteira com os EUA
Corinthians visita time de cidade com marcas sangrentas em região fronteiriça, trânsito de imigrantes ilegais e presidente de clube controverso
As cruzes que se multiplicam ao longo de quilômetros e mais quilômetros de uma barreira interminável denunciam a violência que um dia tomou conta de fronteira entre México e Estados Unidos – principalmente na região de Tijuana, onde o Corinthians enfrenta o time local nesta quarta-feira, às 22h (horário de Brasília), pela Taça Libertadores. Hoje, porém, a equipe dos Xolos é uma das responsáveis por diminuir a tensão na região, normalmente agitada por causa de imigrantes ilegais que tentam cruzar para o lado americano e a forte presença do narcotráfico - inclusive a suspeita de ligação com o presidente de honra do clube.
Tijuana fica localizada a 2.300 quilômetros da Cidade do México, ao norte, no estado da Baja California. Está colada na divisa com o estado americano quase homônimo, a California. Por isso, desperta o interesse de muitos estrangeiros sem visto dos Estados Unidos, que querem ingressar no país de forma ilegal. Nem todos conseguem, as cruzes provam isso. As mortes são por queimaduras da cerca eletrificada do lado americano, ou até mesmo pelo calor, que desidrata e castiga a região de deserto que divide os dois países.
Cruzes se multiplicam e homenageiam os mortos na divisa com os EUA (Foto: Diego Ribeiro)
Só na parte de Tijuana, a cerca tem pelo menos 200 quilômetros de extensão, com duas camadas - a mexicana, mais antiga e com homenagens aos mortos, e a americana, mais alta, eletrificada, e monitorada por câmeras. Para atravessar por vias legais, pode-se esperar até duas ou três horas em uma rodovia que liga México e Estados Unidos. O temor do narcotráfico faz os americanos endurecerem a fiscalização nessa região fronteiriça.
Em Tijuana, até o presidente de honra dos Xolos é acusado de envolvimento com cartel local. Jorge Hank já foi prefeito da cidade e está envolvido em uma série de polêmicas. É dono de um casino, de uma casa de apostas e do clube - tudo “amarrado” pela marca Caliente. Hank foi preso em 2011 por porte ilegal de armas e munições. Pior: boa parte dessas armas teve ligação com assassinatos ocorridos no estado da Baja California. O presidente de fato dos Xolos é seu filho, Jorge Hank Inzunza.
- Eles não falam com a imprensa, é muito difícil localizá-los. Jorge Hank é um homem muito poderoso, mas de grande controvérsia. Ele não é um tipo dos mais amigáveis - disse um jornalista local, que preferiu não se identificar.
Cerca da fronteira entre o México e os Estados Unidos: tensão pura (Foto: Diego Ribeiro)
Pela primeira vez, a cidade vai receber uma equipe brasileira na Taça Libertadores. É tudo inédito para um local que não estava acostumado a ver futebol em alto nível. O jogo contra o Corinthians é considerado pela diretoria o mais importante da história dos Xolos. Não só pela parte futebolística, mas pelo que representa na relação com San Diego.
Hoje, com a baixa da economia americana, muitos mexicanos tiveram entrada permitida no país e vivem na região de San Diego – também possuem dupla nacionalidade. Quando há um jogo do Tijuana, a migração para o México é grande. A distância de cerca de 40 quilômetros entre as duas cidades já foi bem maior, pelo menos no aspecto social. Muitos nativos dos Estados Unidos adotaram o México como segunda casa e atravessam a fronteira para fazer compras, jantar em bons restaurantes e... ver um jogo dos Xolos.
Dos mais de 20 mil sócios que adquiriram carnês para as partidas do Campeonato Mexicano, a diretoria calcula que pelo menos 500 sejam americanos.
- Isso ajudou muito a diminuir os problemas da região. Muitas famílias assistem aos nossos jogos, inclusive americanas, e o clima é de pura confraternização. Você vai ver nossos torcedores pressionando o adversário, claro, mas jamais com violência - afirmou um funcionário da comunicação do clube.
Até perder de vista: cerca tem pelo menos 200 quilômetros do lado de Tijuana (Foto: Diego Ribeiro)
Nada disso, porém, apaga aquilo que as cruzes eternizaram na fronteira. E mesmo com a considerável diminuição das tentativas de imigração ilegal aos Estados Unidos, ainda há muitos problemas do tipo na região.
– Há quem tente, sim. Muita gente ainda tenta atravessar, mas aos poucos o povo mexicano está se conscientizando de que isto não é necessário. Os Estados Unidos precisam mais de nós do que nós deles. Então, a tendência é que um dia essa barreira seja mera formalidade – disse o funcionário do Tijuana.
VAI CORINTHIANS !!!
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