Conto aqui o que vi, e poucas coisas vi tão por dentro em minha vida de jornalista como o nascimento do Clube dos 13 e da Copa União.
Como vi o começo lento e gradual de sua decadência.
Curiosa e dramaticamente, sua implosão se dá quando parecia ressurgir, embora, agora, pareça mais que tenha sido aquela famosa melhora do doente antes de morrer.
Eu era diretor da “Placar” à época em que tudo começou, e o apoio da revista foi tão vigoroso que a taça da Copa União foi encomendada e paga por esta ao artista plástico Carlos Fajardo.
E entregue primeiramente ao Flamengo -e depois a Zico, quando ele se despediu do futebol, porque a Copa não resistiu aos conchavos da cartolagem.
A resposta dos 13 maiores clubes do país à falência da CBF, que abdicara de organizar o Campeonato Brasileiro de 1987 por falta de recursos, foi pronta e eficaz: partiu para fazer seu próprio torneio e obteve o apoio da Globo, da Coca-Cola e da Varig.
Registre-se desde logo que o Brasileirão de 1987 não teria o Sport, que não ficara entre os 24 primeiros em 1986, mas em 27º lugar.
Era para ser o embrião da Liga Brasileira de Futebol Profissional. Nasceria cinco anos antes da Liga Inglesa, a famosa Premier League.
Como em toda revolução, houve injustiças e excessos.
As injustiças contra o Guarani e o América, segundo e quarto colocados em 1986.
Verdade que o time campineiro e o carioca não estavam entre os 16 primeiros do ranking nacional, ao contrário dos 13 fundadores do Clube.
Os excessos ficaram por conta de tentar, sem conseguir, porque proibido pela Fifa, pintar marcas de patrocinadores no gramado.
Já o sucesso foi tamanho que a média de público passou de 20.800 torcedores, a segunda maior de todos os tempos, superada apenas pela de 1983, com quase 23 mil pagantes por jogo. Se forem somadas as quantias provenientes dos patrocínios da Copa União, a média praticamente dobra e atinge padrão europeu dos bons tempos.
A conquista do Flamengo foi algo tão indiscutível que o Conselho Nacional dos Desportos, o velho CND, a reconheceu incontinenti, diferentemente do que veio a acontecer mais tarde pelo Tribunal de Justiça Federal em Pernambuco.
Sim, a CBF quis mudar as regras com o jogo já em curso.
Mas, para 1988, a situação mudou, fruto de um acordo feito pelo presidente do Clube dos 13 e do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, pelo presidente do CND, Manoel Tubino, e pelo vice-presidente da CBF, mas verdadeiro comandante da entidade, Nabi Abi Chedid, com o aval do presidente do Flamengo, Márcio Braga.
E contra o que pensava a direção da Rede Globo.
Por meio de seu diretor de esporte de então, Ciro José Gonzales, de quem divergi muitas vezes, mas que sempre gostou e quis o melhor para o futebol, o número um da emissora, José Bonifácio de Oliveira, o Boni, mandou dizer que a Globo daria respaldo para que a rebeldia dos clubes fosse em frente, sem acordo com a CBF.
Só que prevaleceu o velho espírito conciliatório nacional.
E jamais me esquecerei do olhar perplexo de minha filha ao entrar em casa na volta da escola e ver a figura de Chedid na sala, local escolhido pelas partes como neutro e a salvo de assédio.
Ao recuar, o Clube dos 13 começou a esmorecer.
E chegou a ganhar de mão beijada a Copa João Havelange para organizar em 2000, porque a Justiça impediu que a CBF organizasse o Brasileiro sem a presença do Gama, em memorável batalha judicial vencida pelo inexpressivo clube candango.
Ganhou, mas não soube organizá-la com competência, a ponto de o torneio ser decidido em São Januário com superlotação, queda de alambrado e cerca de 160 feridos, o que obrigou a realização de novo jogo, já em 2001, entre Vasco e São Caetano.
De lá para cá, cada vez mais o C13 se transformou apenas em uma agência negociadora de direitos de transmissão, com episódios lastimáveis, como em 1997, quando foi fechado negócio com o SBT, na casa de Sílvio Santos e, em seguida, em meio a rumores desairosos, voltou-se atrás para manter a parceria com a Globo.
Então, o principal executivo do SBT, Luciano Calegari, em entrevista à revista “IstoÉ”, chamou a CBF de “máfia” e perguntou: “Quando é que dá para acreditar em presidente de clube?”.
Eis que, neste ano de 2011, quando o Cade permitiu as condições para que se inaugurasse uma nova maneira de negociar, com chances claras de se aumentar ponderavelmente as receitas por meio de uma concorrência como nunca houve, tudo rui.
O C13 vai ao Cade amanhã e promete levar documentos que provam compra de votos na eleição que pôs a CBF em choque com Fábio Koff.
Fato é que o racha está posto.
E de maneira tão indecorosa para alguns dos protagonistas que o que fica ainda mais claro é que se trata de uma guerra sem mocinhos.
Na qual o futebol brasileiro morre no fim.
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