domingo, 5 de agosto de 2012
Governo na contramão
Ninguém gosta de levar multa no trânsito. Mesmo quando é merecida, a reação é sempre a mesma: no fundo, o governo só está multando porque quer aumentar a arrecadação.
Um relatório do Tribunal de Contas estadual vem confirmar que essa impressão está, no geral, correta.
Pela lei, o dinheiro das multas deveria ser todo aplicado em iniciativas de prevenção a acidentes e de educação no trânsito. O governo do Estado fez diferente: só 0,05% do que foi arrecadado teve essa destinação. O restante serviu para coisas como reformas no prédio do Detran e gastos administrativos.
Ou seja, o dinheiro das multas, que deveria servir para ajudar a diminuir as infrações do trânsito, funcionou apenas para alimentar a máquina responsável pela própria arrecadação.
Não é pouco dinheiro. Entre 2008 e 2011, o governo estadual abocanhou mais de R$ 600 milhões. Só R$ 318 mil serviram para os fins previstos no Código de Trânsito Brasileiro: sinalização, engenharia de tráfego, de campo, policiamento, fiscalização e educação de trânsito.
Resumindo: por mais que muitos motoristas precisem mesmo de punição, está faltando inventarem uma multa para o grande infrator desse sistema, que é o próprio governo estadual. Ele está, há vários anos, dirigindo o trânsito de São Paulo na contramão da lei.
Com isso, o Palácio dos Bandeirantes desmoraliza ainda mais a fiscalização do trânsito. Permitir que se confunda rigor contra os infratores com a simples ganância do governo contra o cidadão é uma falta grave. Não admira que os marronzinhos tenham fama tão problemática em São Paulo.
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