sexta-feira, 29 de junho de 2012

SEM PATROCINIO.....

Clubes de maior torcida penam para obter patrocínio: entenda por quê Corinthians, Flamengo e São Paulo reúnem 76 milhões de torcedores, mas continuam em busca de parceiro principal para estampar marca na camisa 233 comentários Uma exposição de marca que atinge diretamente 39% da população brasileira está disponível no mercado. E ninguém quer. Nos últimos cinco meses, empresas vêm recusando propostas de patrocínio master para Corinthians, Flamengo e São Paulo, que juntos somam quase 76 milhões de torcedores no país, segundo pesquisa de 2010 do Ibope. Além do trio, somente o Náutico está na mesma situação entre os 20 participantes da Série A. No início, os altos valores pedidos travavam as negociações. Agora, com o primeiro semestre passado em branco, os clubes têm dificuldade para negociar com empresas, que já planejaram o orçamento para o resto do ano. O tempo passou. Copa do Brasil e estaduais também. E a camisa continua limpa, com exceção de patrocínios pontuais, de menor valor. - Houve uma valorização (do espaço nas camisas), que tende a permanecer até a Copa de 2014. É natural, mas não se pode pedir loucura - explicou o vice-presidente da BMG, Márcio Alaor, que tem no orçamento atual o patrocínio a 28 clubes (contra 39 de 2011), a um custo de cerca de R$ 40 milhões, uma queda de 43% em relação ao ano passado. Uma explicação complementar dada por executivos de empresas é a crise econômica mundial. Instituições com capital estrangeiro estão estrangulando seus orçamentos de marketing para controlar as perdas em vendas. Com isso, as grandes marcas estão esperando pelo próximo ano, véspera da Copa do Mundo, pelo menos, para voltar a investir no futebol brasileiro. Clubes enfrentam mercado em baixa O Corinthians não fala em números oficialmente. No entanto, o GLOBOESPORTE.COM apurou que a diretoria está pedindo R$ 30 milhões para estampar frente e verso da camisa. O objetivo maior seria um pacote incluindo ombros e a área próxima às axilas ao custo de R$ 52 milhões. É mais do que o dobro do que a Hypermarcas - patrocinador que detinha esses espaços até o fim do Paulistão (maio) - quer pagar para fazer outro contrato. A empresa, que antes dava R$ 38 milhões ao Timão, agora quer diminuir para R$ 25 milhões, influenciada pela saída da 9ine, agência de marketing esportivo que tem como sócio Ronaldo Fenômeno e era a ponte na negociação. - Não acho que os custos atuais sejam altos. O valor que se pagava antigamente pelas propriedades é que era muito baixo. Há um patamar mínimo que está sendo apresentado no mercado e que condiz com a nossa entrega. Estamos negociando - afirmou o diretor de marketing do Corinthians, Caio Campos. O Flamengo tenta não repetir a história da última temporada. Em 2011, foram sete meses com a camisa limpa até assinar com a Procter & Gamble por um período de cinco meses, por R$ 5,6 milhões. A parceria com a Traffic, que pagava parte do salário de Ronaldinho Gaúcho e exigia prioridade em negociações de patrocínio master, terminou em fevereiro e atrasou o cronograma também para 2012, segundo o diretor de marketing do Rubro-Negro, Marcus Duarte. Valores de patrocínios no eixo Rio-São Paulo Fluminense R$ 90 milhões/ano (Unimed)* Palmeiras R$ 75 milhões/três anos (Kia) Santos R$ 20 milhões/ano (BMG) Botafogo R$ 16 milhões/ano (Guaraviton) Vasco R$ 16 milhões/ano (Eletrobras) * é o valor (aproximado) destinado pelo orçamento da empresa para pagar direitos de imagem e aquisição de direitos de jogadores. O dinheiro não vai diretamente para os cofres do Fluminense. Por contrato, a Unimed deve gastar no mínimo R$ 15 milhões por ano - Agora estamos trabalhando com dois cenários em relação a patrocínios. Um deles é com uma empresa lá de fora, que seria um contrato mais longo, de um ano e meio, até o fim de 2013. O outro é com duas empresas nacionais, que assinariam até o fim do Brasileiro. Estamos trabalhando com agências e tentando vender para essas empresas agora em junho ou julho. As conversas estão evoluindo - garantiu o dirigente. Duarte confirmou que o clube quer R$ 20 milhões pelo patrocínio master, deixando abertura para propostas que chegarem perto deste número. A melhor até o momento foi de R$ 15 milhões - e recusada. A verba do novo patrocinador seria somada aos R$ 8 milhões do banco BMG (mangas), R$ 5 milhões da Cosan (barra traseira da camisa e parte traseira do calção), R$ 3 milhões da Triunfo Logística (ombros) e R$ 2 milhões da Tim (interior do número da camisa), já presentes no uniforme do Flamengo. O São Paulo também pede R$ 20 milhões, apesar de não confirmar oficialmente. A marca da BMG foi estampada até o fim do Brasileiro de 2011, mas a empresa alegou questões de reposicionamento e não renovou o contrato. Até o momento, a melhor proposta foi de R$ 12 milhões. - Temos sondagens de empresas que nos consultam, mas não houve um acordo que chegasse ao nível pedido. Temos um dilema atualmente. Se vendermos por um valor que entendemos que é menor do que vale, jogamos o preço lá para baixo. Para readquirir o patamar depois ficará muito difícil. Se não conseguirmos para este ano, temos um fôlego com a receita que gera o nosso estádio. Ela dá condição de negociarmos com um certo equilíbrio - lembrou Julio Casares, vice de marketing do São Paulo. 'Estamos indo ao mercado no tempo errado', diz diretor Embora os números das propostas assustem as empresas, os clubes acreditam que o maior empecilho para fechar patrocínios neste momento é o "timing" errado. Os executivos confirmam que o orçamento de 2012 já está comprometido. Com isso, os dirigentes precisam pensar mais para frente. - Estamos indo ao mercado no tempo errado. Era para ter aberto em julho ou agosto (de 2011), para ter uma decisão em novembro e apresentar a parceria em janeiro, no início do estadual. Devido à exclusividade que tínhamos com a Traffic, só conseguiremos fechar de forma rápida com uma empresa nacional se tivermos muita sorte. O ano já começou, os orçamentos estão definidos - afirmou Duarte. saiba mais Corinthians fecha mais dois patrocínios e define 'camisa da final' Endividados, clubes recorrem mais vezes a patrocínios pontuais Mesmo com problemas de "timing", o diretor do Flamengo apresenta números favoráveis a quem investe em patrocínio. Segundo Duarte, a Batavo teve em 2010 um retorno de visibilidade entre R$ 76 e 77 milhões, o que, de acordo com informações do dirigente, é 3,5 vezes maior do que o valor investido. Para ele, nem mesmo as notícias de imbróglios judiciais, principalmente após a saída de Ronaldinho Gaúcho, podem sujar a imagem do clube no mercado. - A força da marca não diminuiu. É como se o Flamengo fosse um planeta, e as estrelas ficassem passando na sua órbita. Não atingem. Claro que houve uma perda grande nos negócios com a saída do Ronaldo. Licenciamentos tiveram que parar porque ele não é mais nosso atleta, e houve uma queda na venda de camisas com todos os questionamentos e escândalos que foram para a rua. Mas o mercado já entende que o Flamengo não é apenas um atleta. Retorno do patrocinador do Tricolor chega a dez vezes Márcio Alaor, da BMG, concorda com a visão de Duarte e também cita números positivos da relação com o São Paulo. O contrato foi encerrado apenas porque a empresa mudou de estratégia. Com a meta de ser mais conhecida pelo público já alcançada, ela agora diminuiu o número de clubes patrocinados. - O retorno é espetacular. A cada R$ 1 que investi no São Paulo, tive um retorno de oito, dez vezes. Eu recomendo, sem dúvida. Saímos apenas por uma questão de reposicionamento - afirmou, acrescentando que uma pesquisa feita pela empresa Sport+Market mostrou que a empresa subiu mais de 100 posições e chegou ao top 3 no ranking de conhecimento de marcas ligadas ao futebol. O reconhecimento passa pela exposição na mídia. Até a última semana, o Corinthians teve 30 jogos transmitidos pela TV Globo. O Flamengo somou 14, e o São Paulo, nove. 'Tem que mostrar o cálculo no papel', diz diretor Fora do eixo Rio-São Paulo, a parceria do Banrisul com Grêmio e Internacional já dura 11 anos, tornando-se o segundo patrocínio mais longo, atrás apenas de Fluminense e Unimed (14 anos). São cerca de R$ 15 milhões anuais para cada clube. Para o diretor de marketing da empresa, Guilherme Cassel, independentemente de não ser o melhor momento para a negociação, os clubes precisam mostrar que valem quanto pedem. - Em uma mesa sempre é preciso adequar o pedido à necessidade do interlocutor. O clube pode até valer o que pedem, mas tem que mostrar o cálculo no papel. Hoje as empresas têm instrumentos, já sentam para negociar com consciência sobre a relação custo-benefício. Se a proposta não for assim, nem começam a negociar - afirmou. O resultado fantástico que tivemos com o patrocínio trouxe oportunidades. Hoje, temos um fundo de participação nos direitos de jogadores como Montillo (10%), Paulinho (20%) e Ralf (20%)" Márcio Alaor, vice-presidente da BMG O pensamento do Banrisul não é uma exceção no cenário brasileiro atual. Segundo Ivan Martinho, diretor comercial da empresa de marketing esportivo Traffic, houve uma mudança de perspectiva nas relações entre marcas e clubes com o avanço do uso de ferramentas de medição de retorno. - Antes a decisão era quase 90% emocional. O patrocinador tinha uma relação pessoal com o clube, era torcedor. À medida que os valores aumentaram muito nos últimos anos, os executivos precisavam de uma justificativa técnica para reportar o investimento aos acionistas, mais focada em aumento de vendas, relacionamento com os clientes, não apenas visibilidade. Houve uma conscientização maior - afirmou. As empresas também estão indo além do patrocínio, como é o caso da BMG. O vice-presidente da empresa conta que atualmente faz práticas mais ligadas ao relacionamento com o clube e também com o mercado. - O resultado fantástico que tivemos com o patrocínio trouxe oportunidades. Hoje, temos um fundo de participação nos direitos de jogadores como Montillo (10%), Paulinho (20%) e Ralf (20%). No ano passado, vendi nove atletas e tive um lucro de 72% sobre o valor investido. Além disso, melhoramos a relação com as diretorias ao possibilitar o adiantamento do pagamento de cotas da TV, quando necessário - lembrou Márcio Alaor. Links

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Cartão de risco

O consumidor ainda precisa tomar cuidado com o cartão de crédito. Todo mundo quer ter essa facilidade, ficar livre de carregar dinheiro ou talão de cheque e ainda poder comprar hoje para pagar depois sem ter de abrir crediário. Mas é arriscado. Mesmo depois de várias quedas nos juros de outras linhas de crédito, o cartão não saiu do lugar. Seus juros, há mais de dois anos no mesmo nível, são quase idênticos ao que se cobrava no ano 2000. Os especialistas dizem que há pouca concorrência. As pessoas não têm muita opção, não podem mudar de cartão a toda hora e acabam gastando mesmo sabendo que estão pagando mais. É claro que o cartão apresenta vantagens. Para quem tem disciplina, é um jeito prático de concentrar o pagamento de várias compras numa só data. Para as lojas, é garantia de que o dinheiro vai chegar, o que nem sempre acontece com cheques. Mas a grande armadilha são mesmo os juros. Eles podem fazer uma dívida de R$ 1.000 chegar a R$ 3.382 em um ano. Pagar só o valor mínimo da fatura é uma roubada, verdadeira bola de neve. No crédito rotativo, o consumidor mal consegue cobrir os juros, e a dívida principal continua lá, crescendo. Como no caso de qualquer dívida, a solução para o cartão é só uma: quitar. Quem não consegue pagar a fatura cheia precisa se livrar dele. Pegar um empréstimo mais barato no banco para pagar o valor total é uma das soluções mais recomendadas. Mas, nesse caso, é preciso deixar o cartão na gaveta e não comprar mais nada por um tempo, para não começar tudo de novo.

Arrastão em dia de festa

Contra os casos recentes de arrastões a bares e restaurantes bacanas em São Paulo, o governo anunciou que vai aumentar o patrulhamento, mas só em dias festivos. Parece que o pessoal da polícia não levou em conta que muitos desses crimes são cometidos já perto do horário de fechamento, quando restam poucos clientes, e não em lugares lotados de casais esperando mesa para o Dia dos Namorados. Os bandidos não estão interessados em lugares cheios, onde teriam que controlar um número de pessoas muito maior que a gangue. O reforço só para datas especiais parece uma medida de emergência meio desesperada para mostrar serviço à opinião pública, preocupada com esses casos de roubo em áreas que concentram classes média e alta. É claro que existe um pouco de exagero em relação a esses crimes. Ouve-se falar tanto de arrastão a restaurante que as pessoas acabam sentindo mais medo disso do que de ser assaltado no carro. Só que ocorrem muito mais roubos a motoristas do que arrastões. Assaltos a padarias, farmácias e postos de gasolina também são muito mais comuns, mas mais espalhados pela cidade. Mostrar que tem crime em todo lugar, porém, não vai acalmar a população. Muito ao contrário. O que a polícia tem que fazer é usar inteligência. Descobrir quem são esses bandidos e como eles agem. Enquanto isso, é preciso patrulhar. Nas áreas da capital em que a polícia aparece a toda hora, como a Vila Madalena, a turma do arrastão deu um tempo. Mas, como qualquer um sabe, se o gato não descobrir onde os ratos se entocam, eles voltam rapidinho.

Novas velhas rodoviárias

A Prefeitura de São Paulo tirou da gaveta um projeto de duas novas rodoviárias na cidade, ambas de menor porte, uma na Vila Sônia (zona oeste) e outra em Itaquera (zona leste). O plano original é de 1978. Naquela época, ter carro era só um sonho para a maioria dos paulistanos, e andar de avião, então, era um luxo. Para a prefeitura, as novas rodoviárias ficariam mais perto dos cidadãos. Ajudariam também a tirar ônibus intermunicipais de longos trajetos dentro da cidade, para aliviar o trânsito. A Socicam, empresa que administra os terminais do Tietê, da Barra Funda e do Jabaquara, achou a ideia ruim. Diz que São Paulo não precisa de novas rodoviárias, porque a cidade recebe menos passageiros de ônibus hoje (17 milhões) do que em 1990 (32 milhões). A prefeitura retruca que a empresa tem interesse em detonar o projeto porque perderia clientes. É verdade, mas não basta para justificar gastos que nem a própria administração conseguiu calcular. Já a Socicam diz que as novas rodoviárias vão custar R$ 500 milhões. Fora isso, as justificativas da prefeitura também parecem fracas. Colocar rodoviária perto dos cidadãos é uma uma coisa legal, mas só ajuda quem mora na vizinhança. E as três rodoviárias já estão integradas a metrô e ônibus. O acesso não é um problema assim tão grande. A questão do trânsito que os intermunicipais geram merece alguma atenção. Mas os engarrafamentos não acontecem só em volta das rodoviárias. Se é para melhorar o tráfego, em geral, faz mais sentido gastar dinheiro com o que já se provou que dá certo, como os corredores de ônibus urbanos.

Ao lado das mulheres, na pior hora

A ideia é polêmica, como tudo que diz respeito a aborto. O Ministério da Saúde está estudando formas de prestar mais assistência a mulheres que decidam interromper a gravidez indesejada. Trata-se de informá-las sobre os riscos de cada método para abortar disponível por aí, mas também de apresentar alternativas, como a entrega do bebê para adoção. E, ainda, de prestar-lhes assistência médica após a realização do aborto. A falta de informação, o recurso a clínicas clandestinas e o medo de procurar a rede pública de saúde em caso de complicações são fatores responsáveis pela morte de mulheres que, por falta de opção, decidiram abortar. Diminuir esse risco é uma questão de saúde pública, não de moral. É verdade que, com a iniciativa em estudo, surgiria uma situação delicada. O poder público que faz valer a proibição do aborto (salvo em algumas exceções na lei) é o mesmo que providenciaria informações sobre como realizá-lo do modo menos ruim. No Uruguai, onde o aborto também é proibido, a ideia parece estar dando certo. Vale mais, quando se trata da vida da mãe (que vai fazer o aborto de qualquer jeito), pensar na saúde dela do que fechar os olhos para a realidade, por mais feia que seja. De todo jeito, a questão do aborto divide toda a sociedade. É preciso fazer uma consulta popular sobre o tema, ao menos para que seja discutido sem tabus. Não dá para ir liberando o aborto aos poucos, por decreto. Enquanto isso, as autoridades têm de fazer a sua parte: oferecer acesso livre a outros métodos anticoncepcionais, como a tal pílula do dia seguinte.

Trancos e barrancos

Até algum tempo atrás, parece que ninguém se incomodava com o problema. Quem tivesse de usar cadeiras de rodas estaria mesmo condenado a ter lugares inacessíveis, a depender dos outros para vencer alguns poucos degraus. Ninguém estava nem aí para rampas de acesso. Aos poucos, a mentalidade vai mudando. Mas as calçadas, ainda não. Segundo pesquisa do IBGE, com base no Censo de 2010, apenas 4,7% das ruas brasileiras dispõem de rampas de acesso para cadeirantes. São Paulo não está nada bem nessa estatística. Só 9,2% de ruas permitem a locomoção dos cadeirantes. O índice parece mais feio ainda diante de exemplos de sucesso como o do Samu, um dos serviços de saúde mais importantes da cidade (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o 192). No Samu, quase todos os atendentes têm algum tipo de deficiência, e o serviço ganhou até prêmio internacional por sua qualidade. Sem as rampas, os cadeirantes como os do Samu enfrentam ainda mais dificuldade para chegar ao trabalho. É uma cidade cearense de 8.000 habitantes, a 255 km de Fortaleza, que apresenta o melhor índice de todo o país nesse ponto. Jaguaribara tem 75,5% das ruas com acesso para quem usa cadeira de rodas. Mas não é só o problema das rampas que afeta o cadeirante em São Paulo. Faltaria ainda falar das calçadas que se encontram em petição de miséria. O paulistano vive aos trancos e barrancos, para não dizer aos tropeços e topadas, quando circula pela cidade. O respeito que falta aos cadeirantes é, na verdade, o respeito que falta a todo cidadão.

Salários turbinados na Câmara

Tem enfermeira ganhando R$ 24 mil e motorista com salário de R$ 12 mil. Parece algum País das Maravilhas, mas é a Câmara Municipal de São Paulo, que colocou o salário dos servidores na internet e acabou deixando de cabelo em pé os próprios funcionários da Casa. Muitos temem, com alguma razão, por sua segurança e privacidade. Ninguém quer ter o valor do salário exposto para qualquer um. Mas quem trabalha na Câmara precisa entender que não é um assalariado qualquer: são pagos com dinheiro que sai do bolso de todos os paulistanos. E o cidadão tem o direito de saber o que é feito com a grana que ele tanto sua para ganhar. Dos 713 servidores com salários divulgados agora, um terço (236) recebeu mais de R$ 10 mil líquidos em maio. Mais até que o presidente da Câmara, José Police Neto (PSD), que leva para casa R$ 9.288, sem os descontos. A enfermeira dos R$ 24 mil, por exemplo, ganha o mesmo que o prefeito Gilberto Kassab (PSD). Ninguém tem por que duvidar da competência desses funcionários, mas valores como esses, muito acima da média salarial da cidade, levantam alguma desconfiança. Quem ganha salário "normal" também se sente desconfortável. No caso dos motoristas da Câmara, enquanto um aproveita os R$ 12 mil, outros levam R$ 2.000 por mês para a mesma função. Como é que alguns conseguem tanto aumento? O sindicato dos servidores quer ir à Justiça contra a divulgação. Mas justiça mesmo seria acabar com a farra.

Mais médicos, por favor

O governo federal anuncia que vai criar mais 2.500 vagas nas faculdade de medicina do país. A medida é boa, mas não resolverá um problema grave da saúde pública: a falta de médicos. O Conselho Federal de Medicina (CFM), por incrível que pareça, é contra. Diz que já tem médico demais. Está na cara que esses conselheiros nunca precisaram ir para a fila de um hospital público. Senão, saberiam o que é bom para tosse. Faltam médicos, sim. O Brasil tem 1,8 profissional com diploma para cada grupo de mil habitantes. Os países mais ricos estão bem na frente: nos Estados Unidos, são 2,4 por mil. Com o envelhecimento da população, por aqui, a necessidade de médicos vai crescer muito. Mas o pessoal do CFM tem alguma razão em dizer que há concorrência demais, pelo menos em alguns lugares, entre profissionais nem sempre bem formados. Tem muita faculdade de qualidade duvidosa no país. Hoje em dia, a medicina se tornou muito complicada. Mesmo depois de seis anos na faculdade, o médico só se forma de verdade depois de fazer residência, quer dizer, pelo menos dois anos de treinamento num hospital, com a mão na massa. Para ter mais e melhores médicos, portanto, precisa abrir vagas de residência e pagar bolsas para os jovens estagiários. E, também, pensar num exame caprichado para dar acesso à profissão e, assim, impedir que maus médicos cheguem ao paciente. É claro que continuará a faltar médico onde as condições de trabalho forem muito ruins, como bairros violentos, hospitais sem estrutura e regiões distantes. Abrir vagas em faculdades e na residência médica, porém, não vai resolver essas outras dificuldades.