São Paulo (SP)
Mentiras, maiores ou menores, todo mundo conta um dia. Dizem que algumas são até bondosas. O cara está desenganado e pergunta para os amigos sobre a saúde e o pessoal fala, que ele vai se recuperar logo. Outras mentiras servem para salvar namoros, casamentos. "Você estava olhando para aquela mulher?" "Imagine", responde o cuidadoso marido. "Aquele cara que você ficou conversando, quem é?" "Um primo, que voce não conhecia". Conversinhas fiadas, sem grande maldade e que evitam disabores.
No futebol não é diferente. E surgem estórias, que viram histórias. Por exemplo, você conhece alguém com mais de 75 anos, que não esteve no Maracanã, na final de 1950? Todos os velhinhos falam isso e dão detalhes. Se voce forçar um pouco eles são capazes de chorar. Se todos que dizem que estavam, estivessem mesmo, o público daquele dia não seria de 200 mil pessoas, aliás, outra mentira, e sim de mais de 3 milhões.
O gol do Pelé da Rua Javari, que não tem qualquer imagem registrada, foi visto, por no mínimo, 100 mil pessoas, mesmo tendo acontecido na pequena Rua Javari, onde cabem, com esforço, 5 mil. Outra clássica é a do "treino do Garrincha contra o Nilton Santos". Tenho amigos, jornalistas importantes, que juram ter assistido ao treino, onde um garoto matuto da cidade de Pau Grande, teria destruído o lateral da seleção, Nilton Santos.
E de tanto ouvir essa história, fiquei surpreso ao entrevistar o Nilton Santos e escutar dele, felizmente gravado na Jovem Pan, que esse treino nunca existiu. 'Eu vinha de duas Copas do Mundo disputadas, 1950 e 1954. O Garrincha chegou no Botafogo, para um teste, mais ou menos em 1956. Vocês acham que o Botafogo me mandaria testar um iniciante?" Não tem qualquer lógica mesmo, porém, o mundo do futebol se incumbiu em transformar em verdade.
E tem os muitos, que viram o Pelé treinar, e ser dispensado, pelo Corinthians, daí bronca dele, impedindo por muitos anos uma vitória do adversário. Pelé saiu de Baurú direto para a Vila Belmiro, mas é daí ? Faz parte do show. O futebol, como a vida, tem suas invenções e suas figuras folclóricas, que geram estórias curiosas e emocionantes, mesmo que falsas. Aí é que aparecem os heróis, os mitos, a magia do esporte.
Quando ouço uma dessas mentiras clássicas, e não foram poucas as vezes que ouvi, dou risada. Em alguns casos, pelo perfil do que se aproxima, até antecipo a história que virá. Daqui a algum tempo, talvez elas se tornem realidades indiscutíveis. Muitos contarão e talvez não existam testemunhas de que são falsas. Não há problema. Quantas mentiras não engolimos no dia a dia e nem percebemos, que são lorotas.
Como disse no começo, até ajudam a levar o dia a dia. E a transformar o futebol em algo maior até do que já é. A única coisa que não entendo é porque resolvi falar sobre isso logo agora. Talvez seja efeito do que ouvi nos últimos dias, às vésperas de mais uma eleição.
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