terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Manhã de domingo
Sai cedinho de casa. E as manhãs de domingo são especiais na periferia. Grupos de moleques misturam-se a senhores gordões pelas ruas, com uniformes coloridos, rumo aos sobreviventes campos de várzea. Os papos são animados. As chuteiras, quase sempre com travas barulhentas, batem forte nas calçadas mal conservadas, provocando um som único, que me remete à infância, quando a Penha inteira era repleta desses campinhos, criados e cuidados, pelos próprios moradores. Onde hoje passa o metro, viam-se festivais de futebol começando na Vila Guilhermina e chegando até a Rua Guaiauna, espécie de divisa dos “estados unidos” da Penha com o vizinho Tatuapé. Tinha o Ruve, o 5 de julho, o Guarani, o meu querido Macalé, que virou Miolo da Vila e perdeu o campo por acreditar, que a Marta Suplicy,então prefeita, daria uma outra área para o clube. No lugar do velho campo fez-se um buraco fedido, que chamam de piscinão. Voltando aos times, vale falar da parte de cima do hoje metro da Zona Leste. Lá destacavam-se o Vila Matilde e o Triangulo e, um pouco mais abaixo, Ameriquinha, Palmeirinha e Rio Branco, esse último, time do maior nome da história do bairro, o grande Julio Botelho. Os tempos mudaram. Porém, a várzea ainda teima em sobreviver. São raros os “olheiros”, que antes sobravam pelos campinhos. Os “craques” saem das escolinhas de futebol. São mais delicados, mais cuidadosos e não sonham com Corinthians, Palmeiras, São Paulo ou Santos. Eles agora querem Barcelona, Milan e Manchester United. Aliás, os próprios times, até da várzea, usam uniformes, que se referem as equipes européias. Difícil encontrar os corintinhas, palmeirinhas, flamenguinhos e portuguesinhas. Mas, a sofisticação nos nomes não muda o conceito varzeano de sempre. O que valem são as histórias, do que se fez e do que se quis fazer, no rachão. Já no boteco rolam também as apostas nos jogos dos profissionais, do período da tarde. Isso não mudará nunca. É por essa razão, que o futebol continua sendo a coisa mais importante na vida do brasileiro, tendo ele dinheiro no bolso, ou não. Lazer tão amplo, tão misturado e tão barato, não se encontra em nenhum outro lugar do planeta.
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