quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

SAMBA DO CRIOULO DOIDO

Em 1968, o escritor e jornalista Sergio Porto criou uma paródia para ironizar a obrigatoriedade imposta às escolas de samba para retratarem nos seus sambas-enredo somente fatos históricos.

A música descreve Chica da Silva obrigando a Princesa Leopoldina a se casar com Tiradentes. Este, para ser o “dono do mundo”, se elege Pedro II e vai a São Paulo se encontrar com Padre Anchieta, “o vigário dos Índios”. Juntos, eles “proclamam a escravidão”.

Claro, coisas sem sentido , mirabolantes e sem nexo. Como está claro, foi uma grande mistura de figuras de épocas e lugares diferentes, em condições absurdas.

Esse vergonhoso episódio “Apuração do Carnaval de São Paulo/2012″ está bem na linha criativa do jornalista Sergio Porto.

Quem acompanhou, viu, ouviu e leu com atenção tudo sobre a confusão no Sambódromo, deve estar confuso.

Os sambistas e as autoridades misturaram tudo e fizeram questão de confundir e enrolar.

A LIGA trocou dois jurados na calada da noite.

Os jurados suplentes foram aprovados por todas as escolas e, quando viraram titulares, foram acusados de desonestos.

Antes da apuração os presidente de escolas fizeram uma reunião e…sairam divididos sobre o assunto troca de jurados.

Minutos antes da apuração , os descontentes diziam que ” não gostamos da troca, é estranho…mas vamos aceitar” .

Começou a leitura das notas e - como sempre ocorreu - quando a nota não era 10, surgia um festival de palavrões e ameaças. E tudo partia das mesas dos “dirigentes” das escolas.

Quando a Mocidade Alegre começou a ficar firme da liderança, houve uma estranha movimentação na área da “diretoria”. Os mais atentos perceberam que tinha alguma coisa no ar. Como disse um sambista “tem cheiro de crorofila” .

Restando apenas dois envelopes para serem abertos, ocorreu a invasão de Tiago Faria, vestindo a camisa da Império da Casa Verde. O que aconteceu depois, todo mundo viu.

O invasor - conhecido pelo Policia - tem no seu cartão de visita pontos nada engrandecedores : roubo a caixas eletronicos e formação de quadrilha. Está claro que ele foi a ponta da lança, mas tem muito mais gente naquilo que foi chamado de planejamento da melação.

Preso, o invasor disse que havia um acordo para não cair ninguem. Então a apuração era uma encenação ?

Apertado na delegacia, afirmou que sentiu que a promessa não seria cumprida. A conferir.

A LIGA está morrendo de medo de puvir séria e severamente agremiações envolvidas.

A Prefeitura usa palavras vazias e confortáveis “esperando a investigação policial”.

O Ministério Público está numa encruzilhada. Os responsáveis pelas investigações são considerados muito próximos de dirigentes sambistas e de torcidas uniformizadas.

A Poilcia Militar discursa dizendo que a segurança foi “perfeita”.

Os seguranças da LIGA estavam mais assustados do que criança em filme de terror.

A Império da Casa Verde, num primeiro momento, disse que nunca tinha visto o tal de Tiago. Ele ficou o tempo todo sentado em torno da mesa da “diretoria”.

Vários outros personagens invadiram o palco , deitaram e rolaram . E os PMs daquela área fizeram papel de vasos.

Os vândalos já estavam no lado externo, quebrando cercas , derrubando divisórias, e a PM olhando, apenas acompanhando. E a corporação disse que agiu com brilhantismo , evitando o confronto.

O carro alegórico da Pérola Negra foi atingido por uma bomba incendiária e consumido pelas chamas. Dirigientes da Perola disseram que a Gaviões prometeu pagar o prejuizo. E daí ?

O advogado da Império de Casa Verde diz que não sabe se o Tiago Faria será expulso da escola e tenta tira-lo da cadeia.

Até agora, o óbvio : mantido o resultado de quando a apuração foi interrompida. E confirmada a queda das duas últimas escolas. Por enquanto. O cenário pode mudar..

Vou aproveitar para sugerir para alguma escola um enredo para o próximo ano : armação e patifaria.

A chance de ser tomada uma posição séria é quase nula. Deve ocorrer só “perfumaria” e muito provavelmente vai sobrar para o mordomo.

Sergio Porto morreu depois do carnaval de 68, ano que criou a paródia. Se estivesse vivo , muito provavelmente, contaria essa história de esculhambação e anunciaria o Samba do Crioulo Doido, o retorno.

Tags: Carnaval, Samba do Crioulo Doido, Wanderley Nogueira

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