Enquanto a polícia faz apreensões cada vez maiores de óxi, na cracolândia --reduto de usuários de drogas no centro de São Paulo-- não há distinção entre o crack e o seu genérico, anunciado como mais potente e mais barato.
Em alta na área está o "hulk": uma pedra de crack verde, que teria pureza maior e efeito mais duradouro. O nome se refere ao herói dos quadrinhos que ganha superpoderes ao virar um gigante verde, o Incrível Hulk.
Faz sucesso também a pedra vermelha, a "Capitão América". Para a polícia, o crack colorido é uma forma de o traficante enganar os usuários e aumentar o preço.
Apesar da propaganda, a pedra tem preço tabelado, não importa a mistura: R$ 10. Nêga, apelido da mulata de corpo musculoso, puxa papo: "Esse óxi não tá com nada. Bom mesmo é o 'hulk'".
"Esse é bagulho bom", confirma Cabral, chamado de Velho, sobre a pedra verde.
No mês passado, foram apreendidos 50 kg de crack rosa na Baixada Santista. "O traficante precisa encontrar um diferencial. Mudando a cor da pedra, ele convence o usuário de que seu produto é mais puro ou mais forte do que o do concorrente", afirma o delegado Reinaldo Correa, do Denarc (departamento de narcóticos).
Já o óxi é da mesma cor da pedra tradicional, entre o marrom e o amarelado. Feito da pasta base de cocaína acrescida de solventes como querosene e gasolina, o "bagulho novo" só é diferenciado por entendidos.
É o caso de Jennifer, travesti de 24 anos, oito deles entre idas e vindas na cracolândia. "Tive o privilégio de usar o óxi, porque os irmãos [traficantes] abriram para mim", relata. "Bate uma adrenalina mais forte, mas o efeito vai embora rápido."
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