Culpar as vítimas
Era só o que faltava: um diretor da CDHU (órgão estadual de habitação) disse que os culpados pelas falhas encontradas em casas populares construídas pelo governo paulista são os moradores.
"O pessoal veio da favela, não está acostumado a viver em casa", declarou Milton Vieira Leite. E acrescentou que o problema era de "falta de educação".
Reportagens do Agora e da "Folha de S.Paulo" mostraram que muitas casas entregues pela CDHU apresentam defeitos.
Em Franca, por exemplo, a reportagem constatou goteiras, rachaduras, vazamentos, pias soltas, bolor nas paredes e até falta de muros de arrimo. Na avaliação da sapateira Rosimary Cruz de Souza, fizeram casas de barro e nós estamos pagando.
Os problemas não são diferentes em Ribeirão Preto. Vinte das 23 casas da primeira etapa de um conjunto que está sendo erguido na cidade têm rachaduras e infiltrações. E em nenhuma delas as janelas fecham direito.
Será que isso é falta de educação dos moradores ou incompetência da CDHU?
Declarações como essas do funcionário só servem para reforçar as acusações da oposição de que o governo paulista anda de nariz empinado e não gosta de pobres e favelados.
Aliás, o despejo das famílias que viviam na gleba de Pinheirinho, em São José dos Campos, tem dado pano para manga nesse debate.
Ontem, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), percebendo a mancada, classificou a declaração do diretor da CDHU como errada e preconceituosa. Logo depois, a Secretaria de Estado da Habitação anunciou que o funcionário havia deixado o cargo.
Menos mal.
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Viver sem as sacolinhas
A confusão sobre as sacolas plásticas de supermercado pegou fogo. Muita gente está revoltada com a falta dos saquinhos, como se eles fossem um direito adquirido, fundamental. É um exagero.
Para começar, não há lei proibindo o uso das sacolinhas. O que existe é um acordo entre a Apas (Associação Paulista de Supermercados) e os governos do município e do Estado de São Paulo para substituir as descartáveis pelas recicláveis, que vão custar R$ 0,19 a unidade.
Apenas as grandes redes aderiram à campanha, mas elas atendem metade dos clientes de supermercados.
No restante do comércio, as sacolinhas continuam liberadas. E quem não quiser pagar pelos saquinhos biodegradáveis pode levar carrinhos, caixas e sacolas de casa para carregar as compras.
Não é fácil mudar de hábito, claro. Com um pouco de boa vontade, no entanto, dá para resolver.
É certo, por outro lado, que a iniciativa vai atrapalhar a vida da indústria dos saquinhos tradicionais.
A cada ano, ela vende quase 13 bilhões de sacolas pelo Brasil, 5,2 bilhões delas só no Estado de São Paulo. São 34 mil empregos diretos e indiretos, segundo o setor.
Em Jundiaí (58 km de SP) e Belo Horizonte (MG), contudo, os fabricantes abandonaram os saquinhos tradicionais pelos biodegradáveis.
O caminho é esse: reorientar a produção, e não ficar dando murro em ponta de faca.
As sacolas descartáveis demoram cem anos para se desfazer. Enquanto não desmancham, poluem os oceanos, rios e lagos.
E elas não foram feitas para pôr lixo na rua, como muitos se acostumaram a fazer. Para isso há sacos mais resistentes e adequados.
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