quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
Mestre Pará: o 'camisa 10' das obras do Fielzão
Mestre organiza o meio de campo na obra do Itaquerão e ensina como manter o respeito dos carregadores de piano de sua equipe
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O mestre de obras Pará é o 'camisa 10' do Fielzão
Ele deixou a cidade de Sousa, no sertão paraibano, aos 15 anos para tentar a sorte em São Paulo. E trilhou longo caminho até cravar seu nome na história de um dos maiores clubes do Brasil.
Casos de sucesso iguais ao de Francisco das Chagas Lopes estão por todo lado no futebol brasileiro. Mas este senhor de 61 anos teve de botar a mão em muita massa antes de ser o camisa 10 do Fielzão.
– Minha profissão de origem é pedreiro, depois fui carpinteiro, armador e passei por todo o circuito da construção para me tornar mestre de obras – relata o paraibano, ainda com forte sotaque, mesmo depois de passar mais de 20 anos fora, em Portugal e no Chile.
No terreno do futuro estádio do Corinthians, é dele a tarefa de organizar o meio de campo entre o pessoal do serviço pesado e o setor administrativo, acompanhando de perto cada frente de operários.
Como todo bom maestro, faz tudo parecer fácil. Seu principal aliado é o próprio jeito simples e fanfarrão, que o permite até mesmo atacar de cantor para cima de seus comandados durante as preleções de cada dia de trabalho.
Nada a ver com a figura dos mestre de obras antigos, cuja única forma de impor respeito era pelos berros e o poder de mandar embora quem bem entendessem.
– O segredo é o pessoal acreditar em você, é transmitir segurança. Primeiro tendo o respaldo técnico, depois com humildade e a maneira de tratá-los. O mestre de obra grosseiro ainda existe, mas um dia ele acaba. Empaca – explica.
– Ser delicado não é ser hipócrita. Cortesia é manifestação de respeito. Ser estúpido não leva a nada. Agradecer por qualquer serviço, seja ele qual for, abre-se uma porta. Sorrir para os empregados, não interromper os outros. Tudo isso faz parte da conduta certa – completa.
Mestre Pará já jogou com Lula
Uma das coisas que mais orgulham o Mestre Pará é já ter batido uma bola com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo.
– Moro há 900 metros da casa de Lula. Já joguei bola com ele, nos tempos de Volkswagen. Mas quando ele veio aqui na obra não se lembrou de mim. Disse que tem muitos companheiros – afirma o mestre de obras, enquanto mostra orgulhoso fotos do dia em que Lula foi ao Fielzão.
Operários ainda vão à porta atrás de emprego
Depois de ser dispensado da obra de reforma do Mineirão por causa de uma greve geral, o encarregado de carpintaria Rivanildo Batista bate ponto na porta do Fielzão em busca de emprego.
Ele, que diz não ter se rebelado em Belo Horizonte, é apenas mais um entre pelo menos 30 pessoas que usam a mesma estratégia diariamente – embora a Odebrecht garanta que não pega ninguém sem antes passar pelo Centro de Apoio ao Trabalhador (CAT).
– Aqui na porta ninguém fala nada. Eles mandam ir lá no CAT fazer a ficha, mas é muita humilhação. Você chega às 4h30, pega uma fila enorme e depois demora para ser chamado. Aqui, se o mestre ou encarregado vai com a sua cara, já pega sua carteira para analisar – afirma Rivanildo.
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