A força do crack
Já se passaram 17 dias desde que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (PSD) lançaram a operação de limpeza da cracolândia.
Não se pode dizer que foi um sucesso, mas, ao contrário do que se previa, a ideia não é deixar as coisas voltarem a ser como eram.
Não dava para continuar aceitando que quadras inteiras da cidade mais rica do país prosseguissem como território livre para o consumo e o tráfico do crack. São Paulo merece mais que isso.
Avançar com motos e carros de polícia sobre os "noias", porém, não resolve o problema. Muito menos usar balas de borracha e bombas de efeito moral.
Lugar de traficante e ladrão é na cadeia, claro. Só a repressão policial, porém, não vai acabar com a aglomeração de farrapos humanos na região da rua Helvétia e da alameda Dino Bueno.
Dificultar a compra de pedras de crack por eles pode ajudar na hora de convencê-los a aceitar tratamento médico. Mas os governos do Estado e da cidade precisam estar preparados com vagas e pessoal para interná-los.
Não foi bem o que se viu nos primeiros dias. Com as críticas à violência policial, que só espalha o pessoal pelos bairros vizinhos, a coisa mudou de figura.
Agora o governo do Estado promete duplicar as vagas para tratamento. E anuncia que os trabalhos de assistência social, atendimento médico e repressão policial vão continuar por vários meses.
É o caminho certo. A cracolândia pode até acabar, mas os dependentes químicos sempre vão existir. Não é só em ano de eleição que os governantes estão obrigados a cuidar deles.
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Política do troca-troca
Às vezes fica muito difícil entender quem é quem na política brasileira. Quem é a favor disso, quem é a favor daquilo, quem é aliado de quem, quem é adversário de quem.
O prefeito Gilberto Kassab, por exemplo. Foi ligado ao Pitta, que por sua vez era filhote do Maluf. Depois se aliou ao José Serra, tucano. Mas agora resolveu mudar. Filiado ao DEM, criou um novo partido, o PSD.
É a favor de quê? Difícil saber. Segundo ele, a sigla não vai ser "nem de oposição nem de situação". Só faltou acrescentar: "Muito pelo contrário".
Combatido pelo PT, seria natural que o prefeito se aliasse com os tucanos. Mas ele conversou com Lula sobre a possibilidade de indicar um vice para o candidato petista, que deve ser o ex-ministro da Educação Fernando Haddad.
Se isso acontecer, o que os petistas que viviam malhando Kassab vão dizer? "Hã, mudamos de ideia, na verdade ele era um cara legal"...
Mas tem um porém: se o candidato do PSDB for o Serra, aí Kassab apoia o tucano, seu padrinho.
Só que Serra, pelo visto, está querendo mesmo é ser presidente. Como sempre. Está de olho numa nova disputa contra Dilma Rousseff nas eleições de 2014.
Sendo assim, Kassab fica no aguardo para saber se vai noivar com a oposição, com a situação ou com os dois. Porque no plano federal, é bom lembrar, ele já apoia a presidente Dilma.
É assim que funciona a política brasileira. Na base do interesse eleitoral. Inimigos de hoje podem ser vistos abraçados amanhã. Deu para entender?
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